Segunda, 26 de fevereiro às 14:00
A região Neotropical possui uma das mais ricas e diversas ictiofaunas continentais. A Mata Atlântica, inserida na região, possui um denso histórico de ocupação e desmatamento. Nesse contexto, a Bacia do Rio Paraíba do Sul localiza-se no meio dos principais centros industriais e populacionais do Brasil, lidando com diversos problemas ambientais.. Diante desses fatores, observou-se a queda acentuada do estoque pesqueiro. Espécies que eram pescadas em toneladas por ano como a piabanha (Brycon insignis), a pirapitinga-do-Sul (Brycon opalinus) e o surubim-do-paraíba (Steindachneridion parahybae), hoje encontram-se ameaçadas. Algumas iniciativas tentamrecuperar as populações naturais dessas espécies. Entender mais sobre suas biologias e distribuições em decorrência de estressores ambientais é essencial para garantir a efetividade de projetos de conservação. Assim, o presente trabalho teve como objetivo modelar a distribuição das três espécies, verificando a influência do uso do solo e a presença de barragens. Foram utilizados dois métodos de geração de pseudoausências objetivando encontrar áreas de consenso entre os dois modelos gerados. Foi calculada a sobreposição das barragens sobre a distribuição potencial das espécies com dois grupos diferentes: barragens em operação, e barragens em processo de construção ou licenciamento. Também foi obtida a porcentagem de cada uso do solo na área das modelagens em três categorias: A espécie ausente, presente, e em locais de alta adequabilidade ambiental. A pirapitinga-do-Sul apresentou a distribuição mais ampla, e o surubim-do-paraíba, a mais restrita.. A pirapitinga-do-Sul e o surubim-do-paraíba tiveram preferência por rios com vazão média e corredeiras, e a piabanha por vazões elevadas e áreas relacionadas a planícies. Tanto a pirapitinga-do-Sul quanto a piabanha apresentaram relações positivas com variáveis que servem como proxy para a presença de vegetação marginal, como a capacidade de troca de cátions, podendo ser relacionado com a dieta das espécies. A porcentagem de barragens atuais em locais de adequabilidade ambiental foram baixas para o surubim-do-paraíba e para a piabanha (14,8% e 32,4%), e média para a pirapitinga-do-sul (43,5%). 30 a 50% das barragens em processo de construção ou licenciamento estão localizadas em pixels em que as espécies estão presentes, além de a maioria possuir adequabilidade ambiental alta. O surubim-do-paraíba demonstra-se a espécie mais vulnerável à construção de novas barragens, pois possui uma distribuição restrita, e um dos seus principais tributários, o Rio Pomba, irá pelo menos duplicar o número de hidrelétricas. Grande parte das áreas de distribuição das três espécies possui elevada cobertura antrópica, variando de 70 a 83%. Apenas a pirapitinga-do-sul obteve aumento na cobertura florestal nas áreas com maior adequabilidade, caracterizada pela sua preferência por altas altitudes. Áreas alagáveis e pantanosas apresentaram maior porcentagem nos pixels com maior adequabilidade para a piabanha, podendo indicar uma relação com o uso de planícies aluviais como, por exemplo, áreas de berçário. A porcentagem de contribuição das áreas antropizadas é maior nos pixels de maior adequabilidade para o surubim-do-paraíba, ratificando sua situação preocupante. As informações obtidas demonstram que as três espécies, especialmente B. insignis e S. parahybae, possuem grande parte das suas distribuições e conservação ameaçadas pela presença de barragens e de áreas antropizadas.
Membros da Banca
Prof. Drª. Maria Lucia Lorini
Drª. Carla Natacha Marcolino Polaz