Segunda, 26 de fevereiro às 09:30
Rios e riachos têm sido altamente impactados devido aos múltiplos usos das bacias
hidrográficas e de seus cursos d'água. A conversão gradual de áreas florestadas em usos
antrópicos, como pasto e agricultura, pode afetar a estrutura morfológica dos sistemas
lóticos e a biota aquática. Segundo os conceitos da teoria ecológica, o habitat pode atuar
como um filtro para a seleção de táxons e suas características, definindo sua capacidade
de se manter em um local específico. Por este motivo, é esperado que os impactos
decorrentes da degradação causada por pastagens e agricultura atuem também na
seleção de características. A alteração na taxonomia e diversidade funcional tem
impactos sobre as diversas funções que os macroinvertebrados podem exercer,
especialmente nos fluxos de massa e energia. Dois processos podem ser impactados: a
degradação foliar, importante em sistemas lóticos, está relacionada à presença de
animais fragmentadores, cujas modificações podem alterar a provisão em riachos.
Padrões de biomassa e produtividade podem se modificar, com características
relacionadas à dispersão alterando o fluxo de biomassa na interface água e terra.
Reconhecendo que as características variam, é possível que seu uso contribua para o
biomonitoramento e possam ser usadas como métricas candidatas. Portanto, o objetivo
deste trabalho é identificar variações na estrutura e composição da comunidade de
macroinvertebrados lóticos em um gradiente de intensificação ambiental, representado
por floresta-pasto-agricultura. Foram realizadas coletas de macroinvertebrados usando o
método de multihabitat em 12 riachos, sendo 4 para cada um dos tipos de uso da terra
selecionados. Também foi conduzido um experimento de degradação foliar, onde folhas
de Alchornea triplinervia foram colocadas nos riachos e progressivamente retiradas para
avaliar a perda de massa. A biomassa dos macroinvertebrados, o tamanho medido em
milímetros e 15 características dos macroinvertebrados foram registrados para cada um
dos táxons de insetos identificados. Foi realizada a análise de frequência de
características no uso da terra, bem como alterações nos padrões de abundância, classes
de tamanho, diversidade e biomassa. A taxa de degradação foi obtida através do modelo
exponencial. Os resultados do trabalho sugerem que as espécies em áreas agrícolas são
adaptadas a ambientes degradados, com características altamente voltadas para a
dispersão. No entanto, os riachos pastoris têm poucas diferenças em estrutura funcional
em relação às áreas florestadas, de forma que a relação entre métricas funcionais e uso
da terra não se mostrou linear. A taxa de degradação também não demonstrou diferenças
entre áreas de pastagem e áreas florestadas. O potencial de uso dessas métricas
funcionais e de ecossistemas no biomonitoramento demonstrou-se semelhante àquele
encontrado em métricas tradicionais, mas com o custo adicional de ser necessário
buscar características, calcular a biomassa e/ou medir o tamanho. Os resultados
encontrados neste trabalho sugerem que a dimensão funcional ajuda a compreender
melhor a dinâmica dos ecossistemas através do estudo das variações das características
e das flutuações de biomassa; no entanto, seu uso para separar entre usos de terra mais
sutis do ponto de vista do biomonitoramento não foi eficiente. Resultados ainda
sugerem que riachos pastoris mantêm conservadas a taxa de degradação e produção de
biomassa semelhantes às encontradas em riachos florestados, demonstrando a
capacidade de resiliência do meio.
Membros da Banca
- Prof. Dr. Albert Luiz Suhett - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRRJ
- Profa. Dra. Míriam Pilz Albrecht - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
- Profa Dr. Tatiana Docile - Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ
- Profa. Dr Leonardo H. Gil-Azevedo - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
- Prof Paulo Paiva - Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (suplente)
- Vanderlaine de Amaral Menezes - Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ (suplente)