Quinta, 04 de abril às 09:00
Os organismos do entremarés estão sujeitos a grande variação nas condições ambientais ao longo do ciclo das marés. Em muitos casos estes organismos vivem em condições próximas aos seus limites fisiológicos de temperatura, aumentando sua vulnerabilidade às alterações climáticas. Entretanto, os organismos podem regular o estresse buscando por micro-habitats termicamente favoráveis. Além disso, outros fenômenos oceanográficos, como eventos de ressurgência, podem causar alterações no regime térmico que eles enfrentam. Assim, para obter previsões mais realistas dos impactos das mudanças climáticas nos organismos do entremarés, é preciso entender como os diferentes regimes de temperatura causados pelos micro-habitats e pela ressurgência afetam estes organismos em diferentes escalas. Neste trabalho, nós: i. buscamos entender a importância relativa da influência da ressurgência e dos micro-habitats no regime térmico dos organismos ao longo do ano; ii. comparamos os eventos de ondas de calor que ocorreram nos micro-habitats de sol e de sombra; e iii. identificamos a influência dos parâmetros de temperatura e das ondas de calor nas populações dos organismos dominantes do entremarés a escalas intra e interanuais. Observamos que a ressurgência é o principal fator definindo o estresse térmico durante os meses quentes, enquanto o tipo de micro-habitat foi predominante nos meses frios. A importância dos micro-habitats também foi evidenciada na escala diária (i.e., ao longo do dia) e durante os eventos extremos (i.e, ondas de calor), uma vez que os micro-habitats sombreados protegeram contra altas temperaturas, pois diminuíram o tempo de exposição, a velocidade do aquecimento diário e tamponaram a intensidade e a velocidade de aquecimento dos eventos extremos. Apesar destes efeitos, não observamos impactos negativos da temperatura para a maioria dos organismos amostrados. Aparentemente as características intrínsecas da climatologia da área somadas ao fenômeno da ressurgência foram suficientes para limitar os impactos da temperatura, exceto em organismos de baixa motilidade do entremarés superior, como Chthamalus bisinuatus, durante eventos de ondas de calor em que o pico foi atingido rapidamente. Estes organismos podem, então, servir de sentinelas para os impactos das mudanças climáticas na região.
Membros da banca:
Carlos Eduardo Leite FerreiraCoorientador:
Cesar Augusto Cordeiro Marcelino Mendes
Rui Seabra Alves Martinho
Dr. Paulo César de Paiva