Quarta, 28 de agosto às 14:00
Orientador: Márcio Zikán
Banca: Stephanie Vaz Nogueira Campos e Marcus Vinícius Vieira
RESUMO
A ecologia sensorial busca entender como os organismos processam as informações do ambiente e como isso pode induzir o aprimoramento de determinados sentidos em alguns animais. Os órgãos envolvidos na busca por recursos desempenham um papel crucial na capacidade sensorial do organismo, e seus tamanhos podem refletir sua sensibilidade e importância relativa. As borboletas frugívoras e nectarívoras têm diferentes demandas sensoriais devido aos seus diferentes hábitos alimentares. Borboletas frugívoras, que se alimentam de frutas em decomposição, dependem principalmente de pistas olfativas, enquanto as nectarívoras, que se alimentam do néctar das flores, são orientadas predominantemente pela visão. Neste estudo, avaliamos como o tipo de alimento influencia a alocação em estruturas sensoriais de borboletas. Nossa hipótese é que as borboletas frugívoras investem mais na capacidade olfativa, evidenciada por antenas relativamente maiores em comparação às nectarívoras. Realizamos análises alométricas comparando essas características entre as guildas de borboletas da família Nymphalidae. As borboletas nectarívoras foram coletadas com puçás, enquanto as frugívoras foram capturadas com armadilhas de isca. A amostragem foi realizada na Reserva Ecológica do Guapiaçu, no Rio de Janeiro, e também por meio de fotografias de coleções entomológicas. As medidas morfométricas foram comprimento de asa anterior (como uma medida relativa tamanho do corpo), comprimento de antena (como uma estimativa do investimento em estrutura olfativa) e distância entre os olhos (como uma medida relativa de processamento de informação sensorial). As etapas da análise incluíram testes de igualdade de coeficientes alométricos, teste de isometria e avaliação de diferenças nos interceptos entre as guildas. Nossos resultados evidenciaram uma relação isoalométrica entre o comprimento da antena e o tamanho corporal em ambas as guildas. Para a relação entre a distância entre os olhos e o tamanho do corpo, os resultados foram inconclusivos para a guilda das nectarívoras, mas indicaram uma relação hipoalométrica para a guilda das frugívoras. Além disso, em ambas as características analisadas, independentemente do tamanho corporal, descobrimos que as borboletas nectarívoras investem mais em suas antenas e na capacidade de processamento sensorial do que as frugívoras, o que vai contra nossas hipóteses iniciais. Essas diferenças na alocação de recursos sensoriais entre as guildas podem ser atribuídas à complexidade do recurso floral, que possui uma ampla diversidade de cores, tamanhos, formatos, texturas e odores, sugerindo adaptações distintas para detectar sinais específicos. Este estudo contribui para a compreensão da relação entre a morfologia sensorial e os hábitos alimentares das borboletas, destacando a importância da complexidade das estruturas sensoriais na interação desses insetos com seu ambiente.