28/05/2025
RESUMO
Estudos capazes de documentar o processo de estabelecimento de uma espécie não nativa e avaliar a suscetibilidade de uma comunidade à dominância de invasores contribuem com o amadurecimento de hipóteses no paradigma das invasões biológicas e com o direcionamento de esforços e políticas de sua contenção e manejo. Formada há 40 anos, a represa Juturnaíba é considerada o ponto focal da introdução de espécies não nativas de peixes de água doce no rio São João, no estado do Rio de Janeiro. A pressão de propágulos promovida pela pesca esportiva tem ampliado o número de espécies invasoras nesse sistema. O objetivo dessa dissertação foi avaliar as características biológicas do pacu-cd Metynnis lippincottianus em Juturnaíba para compreender os fatores que favoreceram o sucesso de seu estabelecimento, além de testar hipóteses relacionadas com a suscetibilidade do ecossistema à dominância de uma espécie potencialmente invasora. O primeiro capítulo caracteriza a comunidade de peixes em duas janelas temporais a partir dos primeiros registros do pacu-cd na represa e suas possíveis interações interespecíficas. O segundo capítulo analisa as principais características reprodutivas e alimentares do pacu-cd, a fim de entender como elas podem ter contribuído para seu estabelecimento. Os resultados indicam que Juturnaíba apresenta características que potencialmente favorecem processos de invasão, como a alteração no regime hidrológico causada pelo barramento do rio, os períodos de deterioração na qualidade da água, e uma comunidade depauperada em espécies nativas por conta de inúmeros impactos antrópicos. A população de M. lippincottianus em Juturnaíba apresenta reprodução prolongada, que se estende de agosto a fevereiro, elevada plasticidade alimentar e tolerância a variações ambientais como oscilações na transparência da água, fatores que aumentam sua capacidade de estabelecimento e dispersão em toda a represa. Em menos de uma década, M. lippincottianus se tornou a espécie não nativa dominante no sistema, passando a representar uma ameaça concreta à pesca artesanal e às espécies nativas. Estratégias de monitoramento, prevenção e controle devem ser urgentemente implementadas uma vez que, estabelecida na região, os impactos ecológicos e socioeconômicos causados pela espécie tendem a se acentuar, levando a incrementos nos custos de sua remoção, além dos riscos de dispersão para novas áreas, como o trecho do rio São João a montante da represa.
Banca:
Orientadora: Dra. Ana Cristina Petry
Coorientador: Dra. Ana Clara Sampaio Franco
Titulares:
Dra. Érica Caramaschi
Dr. Marcelo Brito
Suplentes:
Dra. Míriam Albrecht
Dr. Éder Gubiani