Sexta, 03/03 às 09:00
Desastres naturais, secas e enchentes são alguns exemplos dos impactos das mudanças globais antropogênicas, sofridos por humanos e pela biodiversidade. Espera-se maiores impactos no futuro próximo com sérias consequências negativas para as populações. Assim, a população humana precisa estar preparada e se adaptar a novas condições. A natureza auxilia os ecossistemas e as pessoas em se adaptarem às mudanças climáticas, e iniciativas baseadas em serviços ecossistêmicos (SE) são ferramentas conservacionistas relevantes para evitar maiores perdas em biodiversidade e impactos nos ecossistemas. Adaptação baseada em ecossistemas (AbE) é parte de uma estratégia ampla de adaptação às mudanças climáticas, embasada no potencial dos ecossistemas e da biodiversidade em tamponar os efeitos negativos do clima. AbE pressupõe que ecossistemas bem manejados resistem e se recuperam mais facilmente de eventos extremos do clima, garantindo assim a provisão de serviços que são essenciais para a vida humana. No Brasil, projeções climáticas indicam mudanças severas com possível impactos sobre a economia, provisão de comida e energia, assim como sobre os sistemas naturais, causando o colapso na provisão de SE de relevância global. A Bacia do Rio São Francisco (BSF) é uma região crítica, que já sofre os maiores impactos sobre as atividades socioeconômicas no Brasil devido a sua irregularidade climática natural. O Plano Nacional de Adaptação Brasileiro menciona a importância de estratégias de AbE, porém carece de ações específicas. Compreender falhas entre pesquisas conservacionistas e o desenvolvimento de políticas públicas é essencial para construir uma ponte entre a ciência e a tomada de decisão e implementar estratégias de AbE efetivas na região. Unidades de Conservação são uma estratégia de AbE chave no Brasil, mas ainda há lacunas de conhecimento sobre a correlação espacial entre serviços ecossistêmicos e biodiversidade, o que não garante que soluções focadas em biodiversidade promovam a conservação de SEs. O objetivo desta tese é de prover informações para fomentar a implementação de adaptação baseada em ecossistemas na Bacia do Rio São Francisco. A tese é estruturada em três capítulos: O Capítulo 1 é uma revisão sistemática que analisa desafios e oportunidades para implementar políticas de AbE na Caatinga. Neste capítulo, mostramos que as políticas de uso da terra na Caatinga não tratam de agricultura sustentável, conservação dos ecossistemas nem adaptação às mudanças climáticas. Nós fazemos uma retrospectiva e apresentamos uma conjuntura política inédita de AbE para a região; o Capítulo 2 é uma análise de risco climático na BSF para apontar os municípios sob maior exposição, vulnerabilidade e perigo. Nós apontamos municípios mais susceptíveis ao risco climático, todos na região semiárida do Nordeste, com possíveis implicações para a saúde, e segurança alimentar e hídrica; finalmente, o Capítulo 3, é uma análise das sinergias e compromissos entre SE e biodiversidade na BSF. Nós fazemos uma análise espacial sistemática e mostramos que as Unidades de Conservação atuais não são capazes de proteger SE. Aumentar a área sob proteção e sua efetividade é essencial para AbE, porém a seleção de áreas prioritárias para conservação deveria buscar maximizar tanto SE quanto biodiversidade.
Banca: Dra. Mariana Moncassim Vale, Dra. Natália Carneiro Lacerda dos Santos, Dra. Aliny Pires, Dra. Rachel Brady Prado e Dra. Eugênia Zandonà