Defesa de Tese

Defesa de Doutorado - Amanda Santos

Os efeitos em cascata da interação entre um primata superabundante e uma palmeira vulnerável

Terça, 31 de outubro às 14:00

Espécies nativas superabundantes estão se tornando componentes comuns de efeitos em cascata, impactando populações de outras espécies, interações ecológicas e processos ecossistêmicos. Em fragmentos remanescentes de Mata Atlântica, populações superabundantes de macaco-prego (Sapajus nigritus) ameaçam uma espécie de palmeira vulnerável (Euterpe edulis), conhecida como palmito Juçara. Estes primatas se alimentam do palmito fornecido pela espécie, ameaçando sobretudo os indivíduos reprodutivos e pré-reprodutivos. Em minha pesquisa de mestrado, observamos que a ausência de indivíduos reprodutivos de palmito Juçara causada pela predação dos macacos-prego em uma determinada área levou à redução da riqueza e da abundância de sementes zoocóricas na chuva de sementes. Esta redução na riqueza e abundância de sementes associada à maior extensão de abertura de dossel, causada pela ausência do palmito no dossel e subdossel da floresta, pode impactar a regeneração de espécies da flora. Nesta tese, nós aprofundamos a compreensão dos efeitos em cascata originados da interação entre um primata superabundante e uma espécie vulnerável de palmeira. Começamos revisando a literatura em busca de razões que podem levar uma espécienativa à superabundância. Com esta revisão, esperamos compreender os fatores contribuindo para a atual situação dos macacos-prego em alguns fragmentos de Mata Atlântica. No segundo capítulo, investigamos os impactos da predação sobre as populações de palmito juçara. Em nosso capítulo final, avaliamos a influência do palmito Juçara no processo de decomposição, considerando que ao se alimentar, os macacos não apenas causam a morte das palmeiras, mas também depositam um grande aporte de folhas de palmito não chão da floresta. As razões sugeridas na literatura para a superabundância de espécies nativas superabundantes incluem a ausência de predadores de topo, subsídios alimentares e mudanças de habitat causados por atividades humanas, confinamento e isolamento em fragmentos. Estes fatores podem ainda ser combinados com algumas características das espécies, como comportamento generalista e alta taxa reprodutiva, por exemplo. Considerando estes resultados, acreditamos que a superabundância de macacos-prego pode ser atribuída à ausência de predadores de topo, ao confinamento em áreas fragmentadas e à dieta flexível da espécie. A predação praticada pelos macacos leva à redução no crescimento das populações de Juçara, deslocamento da elasticidade populacional para plantas de menor tamanho, altera a estrutura populacional e aumenta os riscos de extinção local das populações predadas. As folhas do palmito decompõem mais rapidamente do que outras espécies da serapilheira, logo, as folhas caídas no chão da floresta devido à atividade dos macacos podem impactar o processo de decomposição. Considerando a importância do palmito como recurso chave e sua influência na regeneração de espécies da flora em comunidades da Mata Atlântica, concluímos que a interação entre os macacos-prego e o palmito Juçara pode desencadear efeitos em cascata que atravessam diferentes escalas ecológicas.

Banca Examinadora:
Dr. Leandro Freitas
Dr. André Tavares
Dra. Mariana Ferreira
Dra. Camila de Barros