Sexta, 24 de novembro às 13:00
A humanidade tem profunda dependência de recursos naturais para se manter no planeta e um dos principais é a água doce. Atualmente, as ações humanas têm se intensificado e gerado efeitos cumulativos nas paisagens naturais e no clima. Neste cenário, a poluição da água emerge como uma relevante questão científica. Este estudo teve como objetivo investigar como as intervenções humanas afetam a turbidez em ambientes de água doce, avaliando a evolução de sistemas impactados por rejeito de mineração e as respostas da comunidade planctônica em ambientes túrbidos. Para atingir tal propósito foram adotadas três diferentes metodologias com perguntas complementares. (1) Desenvolveram-se neste trabalho duas revisões sistemáticas visando investigar respectivamente o efeito da antropização sobre a turbidez em água doce e o efeito da turbidez de composição inorgânica sobre fito e zooplâncton. A literatura científica mostra que a interferência antrópica aumenta em 14 vezes a turbidez em água doce. As intervenções antrópicas mais mencionadas pela literatura são relacionadas ao manejo, alteração de paisagens e eventos climáticos, porém, o tipo de intervenção responsável pelo maior impacto em termos de turbidez é a mineração. O efeito geral da turbidez é a redução da entrada de luz na coluna d’água, o que prejudica diretamente o plâncton fotossintetizante. Na segunda revisão sistemática, a resposta do fitoplâncton à turbidez se mostra heterogênea e varia dependendo da composição da comunidade e do contexto ecológico. Com exceção dos rotíferos, o zooplâncton é, em geral, prejudicado pela turbidez, especialmente os cladóceros e copépodos. (2) Em sequência, foi aplicada modelagem em dados de um lago amazônico que recebeu grande impacto por rejeito de mineração, o lago Batata. Os resultados mostram que este sistema apresenta atualmente melhores condições limnológicas relacionadas diretamente à restauração ativa da vegetação da área impactada do lago, que aumentou o aporte de detrito e nutrientes, favorecendo a deposição de matéria orgânica sobre o sedimento, principal impulsionador deste processo. (3) Por fim, a utilização de rejeito como auxiliar a floculante PAC bem como a resposta metabólica do plâncton à adição de rejeito foram investigadas experimentalmente. A utilização do rejeito como auxiliar ao tratamento com floculante PAC é eficiente em ambientes eutróficos, proporcionando 1.2 vezes mais clorofila floculada e decantada. Neste tipo de ambiente, o efeito metabólico do rejeito é inversamente proporcional à quantidade de clorofila, sendo menor quanto maior é o nível trófico do sistema. Isto se deve à resposta bacteriana via alça microbiana, que proporciona maior resistência ao impacto por turbidez. Este estudo representa um avanço à limnologia ao demonstrar que a ação humana, enquanto forçante sobre ecossistemas límnicos, tem causado o aumento da turbidez, ou turbidização. Este processo altera os fluxos energéticos e de nutrientes em teias tróficas, especialmente em sistemas com menor estado trófico, demandando adaptações das comunidades fito e zooplanctônicas. É necessário, então, que gestores e lideranças políticas estejam atentos ao problema ainda subestimado que são a mineração e a geração de rejeito. Atenção também é necessária à ameaça que as crescentes demandadas da população mundial representam à disponibilidade de água potável, aliada ao agravamento dos eventos climáticos nos próximos anos.