Foi com imenso pesar que recebemos a notícia da perda do nosso colega e amigo Eduardo Arcoverde de Mattos, subitamente, no dia 10 de junho. Eduardo Arcoverde foi, acima de tudo, um profissional que encorajava todos ao seu redor a pensarem criticamente acerca de conceitos, hipóteses e teorias; com os quais ele buscava concatenar e construir um “arcabouço teórico-conceitual” para o tema em estudo.
No início de sua carreira nos anos 80, foi aluno do Curso de Biologia (mod. Ecologia) da UFRJ, e começou a carreira científica estudando as plantas de afloramentos rochosos e como estas respondiam ao estresse, orientado pelo Prof. Sérgio Tadeu Meirelles. Foi nos aclives das rochas do Rio de Janeiro que a ascensão de um grande cientista e professor teve início.
Nos anos de 1990 a 1996, como aluno de mestrado e doutorado do Prof. José Antônio Proença Vieira de Moraes na UFSCAR, ele solidificou o seu aprendizado em ecofisiologia vegetal e fez contribuições importantes para o estudo das trocas gasosas, relações hídricas e escleromorfismo oligotrófico de plantas do Cerrado. Como Pós-doutor passou alguns meses na Universidade de Darmstadt na Alemanha, sob a supervisão do Prof. Ulrich Lüttge estudando profundamente o processo fotossintético. Durante esta parceria, o Prof. Eduardo Arcoverde estudou a fluorescência da clorofila nas fases do Ciclo CAM e os mecanismos que permitem às plantas alternarem entre os Ciclos C3 e CAM. As suas produções científicas da época o colocaram em local de destaque entre os pesquisadores brasileiros que estudam o assunto.
Depois de uma curta passagem como professor do Instituto de Biociências da USP entre 1997-1999, ele retornou ao Rio de Janeiro onde estabeleceu sua carreira como professor do Instituto de Biologia da UFRJ, integrando como professor a instituição onde ele, outrora, havia sido estudante de graduação. Em parceria com os Profs. Fábio Scarano e Dorothy Araujo, conduziu pesquisas pioneiras em Ecofisiologia de Restingas. Nos anos que se seguiram, ele estendeu seus estudos aos Campos de Altitude, Mata Atlântica e Campos Rupestres. Eduardo publicou mais de 60 artigos científicos e capítulos de livros, orientou mais de 30 alunos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Mas acima de tudo, fez tudo isso com dedicação, esmero, paciência e afeto.
A partir de 2004, ele expandiu o seu interesse para o papel dos atributos funcionais em explicar a montagem de comunidades e nas respostas das espécies à mudanças ambientais. Esta linha de pesquisa o levou a ter novamente publicações de alto impacto contribuindo para a formação do “arcabouço teórico-conceitual” sobre as síndromes funcionais das plantas e como estas impactam o funcionamento dos ecossistemas.
Entre 2011 e 2014, Eduardo Arcoverde foi coordenador do Programa de Pós-graduação em Ecologia (PPGE-UFRJ), contribuindo para criar um ambiente acadêmico amigável e rico em trocas de idéias. Nos anos seguintes, ele se voltou para a extensão dedicando-se com entusiasmo ao Projeto Capim-Limão e ao estudo da Agroecologia, com os quais ele acreditava que traria novas esperanças aos alunos e fomentaria a conservação ambiental e maior justiça social. Ele nunca se colocou em posições de hierarquia na academia, sempre tratou estudantes, alunos e colegas, com o mesmo respeito e acolhimento. Com isso, ele deixa não somente um legado científico, mas um legado humano, que certamente se perpetua através daqueles que, independente de terem sido formalmente seus alunos, aprenderam com ele.
Recentemente, apesar do momento de retrocessos humanísticos, científicos e educacionais que o Brasil vive, ele nunca deixou de lutar, se dedicando ao avanço do conhecimento, guiando seus estudantes com afeto e ensinando em suas classes com coragem. Como colega de instituição era uma voz ouvida por todos, raramente desperdiçava palavras provendo a todos de uma análise crítica dos diversos apectos do ensino, pesquisa e extensão (num raro caso de comprometimento profundo com os três), sempre oferecendo soluções que nos faziam refletir profundamente sobre o papel científico e social de todos nós.
Eduardo Arcoverde faleceu prematuramente, aos 57 anos, certamente antes de realizar ainda mais contribuições importantes para a ciência e para a formação de estudantes. Para nós que pudemos conviver com ele, será uma honra levar adiante o seu legado na ciência, na educação e na conservação ambiental. Eduardo foi pai, professor, cientista e sonhador.